Monday, January 30, 2006

31 de janeiro

E em tudo se instala
o que se chama silêncio
Corrente sangüínea
outrora em ebulição...

...E o líquido repousa
no leito de suas veias....

(Adriana - 31 de janeiro de 2006)

Sunday, January 22, 2006

É melhor ser alegre que ser triste...

Minha mãe vive dizendo que é muito egoísmo de uma pessoa quando esta não compartilha seus sofrimentos com os que estão ao seu redor... Cresci ouvindo isso. Então, muitas vezes, na minha vida, apesar de eu não gostar de falar sobre meus problemas com ninguém, eu saía distribuindo meus chororôs por aí. Nao queria ser egoísta. Às vezes, passava horas ao telefone desaguando minhas dores... E chegava a me sentir satisfeita quando percebia que alguém estava com pena de mim. Nossa! Que coisa (hoje enxergo o absurdo disso!).

Mas em contrapartida, eu também sofria as dores dos outros. Sim!!! Como não? Essa era a regra. Eu chorava primeiro, o outro chorava em seguida. Então, quando o outro era quem chorava antes, eu tinha de chorar igualmente. E eu sentia tudo o que o outro sentia, os mesmos enjôos, as mesmas dores nas costas, os mesmos apertos no coração, as mesmas preocupações com filhos adolescentes ( e meus filhos ainda nem tinham chegado à segunda infância...), a mesma fadiga. E ficava assim, durante dias, remoendo aqueles problemas que não eram meus, chegava a quase ficar de cama (juro!) quando não conseguia ajudar.

Dias e dias remoendo aquilo, contando para os parentes, amigos próximos, espalhando tristeza por aí. Mas eu pensava que se não fosse desta forma, seria muito egoísmo meu. Eu tinha de sofrer junto com meu semelhante. E o meu semelhante também tinha de sofrer comigo. Era uma troca.Até que, um dia, eu percebi que minha vida estava sendo um eterno sofrer. Mesmo quando eu estava feliz, por qualquer motivo besta, eu achava um jeito de acabar com aquela alegria. Claro!! Como eu podia estar feliz se um parente ou amigo estava com dor nas costas, com problemas conjugais, com dor de dente, se havia perdido suas finanças, se o filho havia batido com o carro por causa de bebedeira?? Como???????? Meu Deus, isso era muito egoísmo! Então, eu brigava com marido, com filhos, com o papagaio. Sim, minha vida não podia ser perfeita.


E não era. Tinha seus altos e baixos. Mas eu fazia questão de valorizar mais os baixos. E os que viviam comigo também eram assim. Senão, como explicar tantas noites de sono perdidas por causa de problemas alheios ou supervalorização de pequenos problemas nossos? Bem, isso durante um certo tempo. De repente, eu percebi que eu era egoísta sim. E que estaria muito melhor se assim o fosse, obrigada. E resolvi fechar meus ouvidos e minha boca para a tristeza. Nunca mais falar sobre nem uma dor de dente minha, de meus filhos ou quem quer que fosse, a ninguém. E nunca mais parar para ouvir problemas de ninguém.

Está com problema? Sinto muito. Posso fazer nada. O máximo que posso fazer é rezar por você. Ou então, convidá-lo para sair e festejar. Dançar, ver gente bonita, passear, viajar, sei lá. Mas ficar parada ouvindo e me solidarizando, nem pensar.

Sinto muito, repito. Ou melhor, sinto nada.

Sim, isso é uma Ode ao egoísmo, como diria minha mãe. Mas eu tenho ficado melhor assim. Não falo de meus problemas a ninguém. E tenho muitos, muitos mesmo. Mas você não vai receber um telefonema meu, nem uma visita por causa disso.

Você vai receber um telefonema meu sim, mas para lhe contar minhas conquistas ao longo do ano, as conquistas de outras pessoas, para falar sobre a beleza de Salvador, sobre o Carnaval, sobre livros, filmes, a saúde e a beleza de meus filhos (que são mesmo os mais lindos, educados, e perfeitos do mundo! Não posso perder a chance de enfatizar isso! rs).


E quanto às minhas visitas, bem, se eu realmente o visitar, o que acho quase improvável, eu avisarei com, no mínimo, três dias de antecedência. E perguntarei se não quer que eu leve um vinhozinho ou algum petisco. Odeio quem chega sem avisar. Jamais cobrarei sua solidariedade. Prometo. Mas prometo não a você, prometo a mim mesma, que é a quem realmente devo satisfação.

Bom, se minha mãe ler esse texto, ela vai dizer: “é.. você é realmente egoísta e isso me deixa muito triste.” E eu já respondo de antemão: “fique triste não,mãe, seja feliz, porque eu estou bem, mesmo quando não estou.”

E esse texto é sim uma Ode, mas uma Ode à alegria. Salut!


(Adriana – 22 de janeiro de 2006 - Ao som de Lollipop, com a banda Bem Kweller)

Friday, January 20, 2006

Memória de minhas árvores tristes

Nunca pensei que desmontar Árvore de Natal fosse tão complicado. Sim, eu sei que hoje já são 20 de janeiro, quase 21... Mas pasme você, eu só desmontei minha árvore hoje... Eu, que fui criada em família católica, com todas aquelas tradições religiosas, sei muito bem que, normalmente, os enfeites natalinos são retirados no dia 06 de janeiro, que é o dia de reis. Que reis? Os três Reis Magos, aqueles a quem a estrela anunciou o nascimento do Messias.... Bem, mas no dia 06 eu não tive coragem de desmontar minha árvore. Não sei por quê. Amanheci com uma depressão profunda. E até escrevi algo do tipo: “ Hoje não tem poesia, só consigo pensar no espectro de minha vida vazia”... E só de me imaginar tirando aqueles sinos, aqueles anjos, aquela estrela... Pra mim, soava como se eu estivesse desmontando minha própria vida... Mais uma vez!Passou, então, o dia seis, passou o dia sete, passou dia oito, passou o dia onze (que é a data do meu aniversário)...E o dia 12, outra depressão, profundíssima. Fiquei dia todo trancada em meu quarto. Quando saí, no meio da sala, olhei. A árvore intacta. Peguei um livro e comecei a ler. Presente de aniversário. “Memórias de minhas putas tristes”, de Gabriel Garcia Marquez. Livro interessante. Mas não é sobre livro que quero falar.Semana passada minha mãe veio jantar aqui. Quando viu a árvore, logo se lembrou de sua mãe (minha vó) que só desmontava sua decoração de Natal no dia 20. “ O presépio” – completou, olhando com aquele jeito inquisidor, como se dissesse: você não tem mais uma família como a Sagrada... E eu entendi o recado: “Poxa- pensei – eu não montei o presépio este ano...” Bem, não me pergunte por que minha avó só se desfazia de sua decoração no dia 20. Minha mãe explicou, mas eu estava ocupada fazendo feijoada (para o jantar !), ouvi, mas já esqueci. E, apesar do catolicismo todo da minha educação, eu devo ter perdido essa aula na catequese. (Eu olha que já fui catequista também!). Bom, mas o fato é que quando minha mãe relatou esse fato, tranqüilizei-me. Se minha avó, ela que sempre fora tão devota, demorava tanto para se desfazer de tudo aquilo, eu poderia também perfeitamente esticar meu Natal até o final do mês. Bem, e aí hoje me dei conta de que já estamos na segunda quinzena do mês. E eu já estou às voltas com planejamentos para o início do ano letivo (ai ai). Resolvi, então, tirar aquele verde todo do lado do meu sofá. Achei que seria a coisa mais fácil do mundo. Mas não foi. Tamanha foi a agonia que senti ao retirar cada penduricalho, que resolvi arrancar tudo, de uma só vez, sem nem pensar se quebraria algo, se arrancaria uma perna do papai Noel, a asa do anjo, se a estrela iria perder uma das pontas... eu queria que aquilo acabasse logo. E coloquei de qualquer jeito dentro da caixa. Levei à despensa e saí. Página virada.Quando retornei à sala, pus-me a pensar sobre minha vida.Sempre fui assim. Às vezes, levo anos construindo algo, na maior dedicação, e preparação.. mas quando esse mesmo algo já não é mais como deveria ter sido e está me fazendo sofrer, ou se o fim dele é iminente e não há mais nada a fazer, acabo com aquilo de uma vez. Não sem pensar, mas com aquela ânsia de que se é pra ser, que seja se uma vez!E então o que se levou anos sendo construído, em cinco minutos vai ao chão. Foi assim, quando eu tive que me mudar do Paraná e largar meu emprego estável. Foi assim quando eu tive de deixar para trás uma casa deliciosa que eu mesma havia planejado – literalmente, rascunhei a planta mesmo, e depois disse ao engenheiro: é assim que eu quero. Vire-se! E minha casa foi construída exatamente do jeito como eu planejei. E nela eu achava que passaria o resto de minha vida...E foi assim também com meu casamento. 20 anos. E é a primeira vez que eu escrevo a respeito...Como na metáfora de minha árvore, não queria arrancar o que pendurei durante tanto tempo e com tanta dedicação. Tanta coisa pendurei nesta árvore, que não era a de Natal propriamente dita, mas que presenciou tantos natais, aniversários, férias, viagens, alegrias, tristezas, doenças, risos, sonhos...Bem, minha árvore (a do Natal) eu acho que no mês de dezembro deste ano eu a usarei, talvez com os mesmos penduricalhos, ou com novos... Ou talvez eu compre uma nova árvore. Ou talvez eu nem esteja viva. Quem sabe? Então, para o restante de minha vida penso o mesmo. Talvez eu tenha tudo de volta. Talvez somente algumas coisas. Ou talvez tenha tudo novo, com novos “enfeites”, novos “planejamentos”.. Ou talvez eu nem esteja viva para ter algo de volta ou para “plantar” novas árvores. Mas tudo bem. Hoje, consegui desmontar minha árvore de Natal. Doeu enquanto eu desmontava. Mas passou. E eu continuo viva. Que bom!

(Adriana - 20 de janeiro de 2006)