Sunday, March 25, 2007

Versão vienense do meu prazer


A versão vienense do meu prazer
Seria viver um poema
contínuo... com alguém que
me conheça.. de tal forma
que por me conhecer, saiba que
precisa me ignorar
para me entender

A versão vienense do meu prazer
Seria estar num poema
Contínuo ... com alguém que
me encontre.. de tal forma
que por me encontrar, saiba que
precisa me perder
para me avaliar

A versão vienense do meu prazer
Seria buscar um poema
Contínuo... com alguém que
me queira.. de tal forma
que por me querer, saiba que
precisa me deixar
para me reaver

A versão vienense do meu prazer
Seria realizar um poema
Contínuo...
não rotineiro... de tal forma
que me permita
várias versões
sobre todos os temas

E muito cinema....
E muito roteiro...
E muita valsa...
E muita viagem
E muita poesia..

E tudo isso talvez em Viena
Talvez em Paris
Ou quem sabe no fundo do mar
Em algum canto ainda por descobrir...

A minha versão vienense do prazer,
num poema contínuo
pode acontecer a qualquer momento
e por qualquer motivo

Quem sabe numa taça de vinho
Ou ainda numa troca de cheiros
e de sabores...
de um beijo
ou milk-shake
Num fim de tarde
de domingo...

Em minha versão vienense

De (e em) tudo
o que quero...
Há um poema
contínuo...

E um prazer
constante...

Que se pode traduzir num viver
Inteiro
E intenso...

(Com você...)!

Minha versão de hoje... Em Viena...

(Adriana Luz)

Thursday, March 22, 2007

Mal do meu século


Quatro horas da manhã. Mais uma vez estou embalando o amanhecer... Este recém-nascido que exige de mim toda a atenção, todos os dias, no mesmo horário... as mesmas necessidades, os mesmos motivos de choro ou dor.
Eu tento descobrir a razão de tanta agonia... em vão... e todas as vezes prometo a mim mesma que no dia seguinte, resolverei o seu problema...
Mas o amanhã chega, e ele adormece, enquanto o mundo acontece.

E eu me envolvo com o mundo, mergulho em seus acontecimentos
E me esqueço da promessa que havia feito a mim mesma

Vagamente me vem à lembrança: acho que alguém precisa de mim.
Mas estou ocupada demais para prestar atenção aos meus pensamentos...

E o dia acaba.
E a noite acaba.
E o mundo adormece.
E o recém-nascido me desperta.
E aí me lembro de que eu deveria ter cuidado dele antes de seu despertar...

Agora é tarde, não há ninguém a quem eu possa recorrer
Todos dormem...Menos eu e meu rebento
Lembro-me de uma música... “será que o sono chega se eu fingir que não estou...?”
Finjo ( e fujo)... Mas os recém-nascidos não têm essa noção...
Não aprenderam ainda o que é fuga ou fingimento...
Nem o real, muito menos o poético...
Fazer o quê? Nada me resta... a não ser o continuar embalando...
até que ele se aquiete
e eu possa enfim me juntar ao resto da humanidade (que por ora descansa)...

(Adriana Luz)