Thursday, March 22, 2007

Mal do meu século


Quatro horas da manhã. Mais uma vez estou embalando o amanhecer... Este recém-nascido que exige de mim toda a atenção, todos os dias, no mesmo horário... as mesmas necessidades, os mesmos motivos de choro ou dor.
Eu tento descobrir a razão de tanta agonia... em vão... e todas as vezes prometo a mim mesma que no dia seguinte, resolverei o seu problema...
Mas o amanhã chega, e ele adormece, enquanto o mundo acontece.

E eu me envolvo com o mundo, mergulho em seus acontecimentos
E me esqueço da promessa que havia feito a mim mesma

Vagamente me vem à lembrança: acho que alguém precisa de mim.
Mas estou ocupada demais para prestar atenção aos meus pensamentos...

E o dia acaba.
E a noite acaba.
E o mundo adormece.
E o recém-nascido me desperta.
E aí me lembro de que eu deveria ter cuidado dele antes de seu despertar...

Agora é tarde, não há ninguém a quem eu possa recorrer
Todos dormem...Menos eu e meu rebento
Lembro-me de uma música... “será que o sono chega se eu fingir que não estou...?”
Finjo ( e fujo)... Mas os recém-nascidos não têm essa noção...
Não aprenderam ainda o que é fuga ou fingimento...
Nem o real, muito menos o poético...
Fazer o quê? Nada me resta... a não ser o continuar embalando...
até que ele se aquiete
e eu possa enfim me juntar ao resto da humanidade (que por ora descansa)...

(Adriana Luz)

1 comment:

Anonymous said...

seu blog tem qualidade e é prazeroso ler e seus textos e passar os olhos pelo blog, esteticamente é agradavel, adotrei muito mesmo e espero sempre visita-lo.
bjs ronaldo braga