Thursday, December 28, 2006

Caderno Novo...










2007!!! PRA VOCÊ...






























TODO O ESPAÇO DO MUNDO...





































PODE COMEÇAR A ESCREVER...






































SALUT!...

Sunday, December 24, 2006

Então... Bom Natal...






Então é Natal... E o que você fez... O ano termina... E nasce outra vez...

:-/

Friday, December 22, 2006

Teoria das madrugadas 2




Cá estou eu, com o meu presente, o meu passado e o meu futuro. Tudo misturado...

Aliás, tem um comercial de um carro que me toca demais. É um comercial em que o cara vai andando e olhando pra trás, para os lados... E ali, a cada passo, ele vai vendo tudo o que se passou na vida dele... E aí, no final, ele pára em frente a um carro e o locutor diz: sua vida trouxe você até aqui...

É muito lindo...

Bem, mas por que estou falando desse comercial?

Porque é assim que estou me sentindo. Ou melhor, é isso que estou sentindo... Minha vida me trouxe até aqui. E agora, o que me levará adiante? Haverá o “adiante”? E se houver, o que será que será?

Queria tanto poder prever meu futuro... Sei que todos gostariam, e que isso nem é original. E que também todo mundo tem esses questionamentos, ou essas reflexões... É, eu sei... Mas agora nem estou querendo ser original. Só quero registrar o que estou sentindo .

Às vezes penso que estou vivendo uma realidade paralela. E que, a qualquer momento, voltarei à vida que deveria ser. Ou que sempre foi...

Às vezes não acredito no que faço, no que fiz, no que estou fazendo...

Ou então, faço e fico me perguntando: e agora? Qual o próximo passo?

Às vezes também me acho uma pessoa tão pesada de carregar. Nossa! Como eu peso a mim mesma. Poderia ser bem mais leve... Se eu pesasse menos, seria tão fácil de me carregar. E olha que nem estou falando do peso literal (o que aliás, está enorme!! Putz. Preciso perder pelo menos uns cinco quilos. E quem diz que eu consigo?? Ai ai)

Às vezes gostaria de ser sempre pra cima. Alto astral.

Às vezes, gostaria de ser mais profissional. Mais fria, mais calculista.

Às vezes, gostaria de não me apegar a minúcias...

Às vezes, gostaria de não me achar o centro do mundo...

Às vezes, gostaria de não me achar o bueiro do vaso sanitário...

Às vezes, às vezes, às vezes...

(Adriana Luz - 23 de dezembro de 2006 - 2h57min)

Teoria das madrugadas

Estou desenvolvendo um projeto. Não. Não é nada relacionado ao meu trabalho. Aliás, por falar nisso, fui designada a ser “Coordenadora de Projetos” ... Título interessante. Estou me sentindo meio assim “Assessora do assessor que programa assessorias”... mas tudo bem... Não quero falar sobre isso agora.

Como eu ia dizendo, estou desenvolvendo um projeto. E este é sobre os relacionamentos (humanos, animais, materiais...).

Sabe que nem eu acredito na idéia que tive? Pois é. Estou orgulhosa de mim mesma. Como posso guardar tanta sabedoria dentro de minha própria pessoa? Incrível!!!

De tudo o que já fiz, já inventei, já criei.. Enfim, de todos os meus projetos, este é o mais fenomenal!

Acho que este, sim, será O PROJETO! Aquele que me dará o brilho necessário, me alavancará e me lançará ao estrelato. Já me vejo nos talk shows da vida dando entrevistas e explicando tim tim por tim tim do que se trata este grande invento, qual foi o ponto de partida, como tive a idéia etc etc etc...

E claro, como ainda se trata de um esboço, obviamente não o relatarei aqui neste espaço concorrido. Vou apenas registrar que o projeto nasceu, na data de hoje, depois que cheguei de uma festa de confraternização... Aliás, não consigo pensar em outra coisa... E, como estou sem sono (pra variar) resolvi registrar o momento.

E por falar em momento, neste exato (são duas horas da manhã), estou aqui... E o resto do mundo está aí.

Aí onde? – perguntarás.

Aí no momento de cada um – responderei.

Coisa mais besta – dirás.

Besta, mas fascinante – retrucarei.

De verdade. Estou fascinada com isso. Eu , aqui, acordada, em plena madrugada, um calor infernal, luzes apagadas, só a claridade da tela do computador, resto da casa em silêncio... Eu, solitária e rodeada pelo resto do mundo. Eu, em silêncio, participante de todos os momentos, de todas as vidas, de todo o mundo...

O homem que acorda, a mulher que está tirando maquiagem, a moça que está na balada, o casal que está namorando, o rapaz que está dormindo, a criança que está berrando... Todos estamos no mesmo momento, exatamente, nos mesmos segundos, fazendo coisas distintas, ao mesmo tempo...

Estamos todos juntos, ainda que solitários... E não nos vemos...

E por que não nos vemos?

E se não vemos, não sentimos?

E se não sentimos, não sabemos quem está onde e fazendo o quê?

Sim!!!

Ou melhor, não!!!!!!

Quer dizer: sim e não!

Não nos vemos, não sentimos, não sabemos ... Mas estamos!!! Sim, estamos...

Que coisa... Isso pode até fazer parte do meu projeto... Hum. Gostei. Vou anexar isso à minha grande idéia.

(Adriana Luz - 23 de dezembro de 2006 - 2h32min)

Tuesday, December 19, 2006

Amor de poeta

"O pescador tem dois amor

Um bem na terra, um bem no mar..."

O poeta tem mais de dois "amor"...

Tantos e vários...

E às vezes nenhum...

E pra cada algum, que veio

ou que se foi...

uma letra,

e um olhar,

e um beijo,

e por vezes,um grito...

Mas só entende o poeta,

quem sabe ler o ser humano

Não as palavras...

(Adriana Luz) (19/12/2006)

Wednesday, December 13, 2006

De bandeja

NOSSA!

Tenho TANTA coisa pra escrever. TANTA coisa pra falar...

Mas estou com TANTA preguiça...

Sim. Tenho MUITA preguiça. Aliás. Tenho VÁRIAS.

MIL preguiças.

E nem um pouco de VERGONHA ou MEDO de admitir.

Pois bem.

Quero fazer um texto CUJO TÍTULO seja "De bandeja".

Por quê? Bem... Nesse exato momento eu SEI o porquê.

Mas tô com TANTA preguiça de falar.. de escrever...

MELHOR parar por aqui...

AMANHÃ...

Ou quando estiver com um pouquinho mais de ânimo, falo do que seria isto...

" DE BANDEJA"...


Mas....

Se eu ainda estiver com preguiça amanhã, o que farei?

Bem, esperarei as PALAVRAS CAÍREM...

Assim...

SOZINHAS...

Nos meus lábios, nos meus dedos, no meu colo...

De Bandeja...

QUALQUER DIA, QUALQUER HORA...

POR HORA...

VOU PENSAR...

TALVEZ SONHAR...

SALUT!

Tuesday, December 05, 2006

Santa chuva



Às vezes, fico irritada comigo mesma. No último post, eu escrevi sobre o cuidar de mim. E queria realmente ficar com aquele pensamento.

Mas bastam algumas gotinhas de chuva, ou um céu mais nublado, e lá estou eu me achando o bueiro do asfalto. E remoendo as migalhas que (não) me são oferecidas...

Pois foi exatamente isso que fiz no dia de ontem. E quase na totalidade do hoje...

Que absurdo.

Mas, eis que, algumas lágrimas surgiram...

Estranhas, diferentes...

Foram escorrendo pela minha face... Mas, ao invés de eu me sentir triste, fui me sentindo cada vez melhor...Engraçado...

*******

Até que, de repente, tive um clique e pensei: o que é que eu estou fazendo?

Confesso que cheguei a me achar ridícula... Eu me descabelando diante do nada.

Uma total falta de respeito "próprio-comigo-de-mim-pra-mim-mesma"...

*******

Acho que, muitas vezes, nem eu sei da força e do que sou capaz de fazer.

Meu lema sempre foi este: seguir em frente, nada de choros em ombros alheios, nada de espalhar tristezas por aí...

E mais: nada de dores, nada de sofreres...

Coisas que só a mim pertencem. E ninguém tem nada a ver com isso.

E se sempre pensei assim, porque cargas d´água estava eu me permitindo mudar? E pra pior? Putz!

*******

Por isso, resolvi fazer, agora, um tributo às águas da chuva... Àquela que vem, lava e leva tudo o que nos sufoca...

Ou uma ação de graças aos céus. Coisa que aliás, deveria ter feito há muito tempo.

Porque, como diz a letra daquela música: "a chuva já passou por aqui . Eu mesma que cuidei de secar."
Obrigada, vida. Obrigada, céu. Obrigada, Deus.

*********

Feliz Eu-Novo!! De novo!!!!

E pra esse novo eu, já decidi: qualquer coisa não me serve. Qualquer nada não me satisfaz...

Porque estou de alma lavada. Porque sou... o que eu quiser...

Santa chuva!


(Adriana Luz - 05 de dezembro de 2006)

Thursday, November 30, 2006

Só não se perca ao entrar no meu infinito particular





Hoje amanheci com vontade de cuidar de mim... Não sei o que foi. Talvez os pensamentos confusos de ontem... Talvez as conversas lunáticas com minha amiga. Talvez a noite mal dormida... Talvez os sonhos malucos que ando tenho.. Talvez os sonhos de outros.

Talvez os projetos... Talvez o trabalho...

Talvez as peças que quero ver... Talvez os filmes que quero assistir... Talvez os livros que quero ler... Talvez as roupas que quero vestir.. Talvez os perfumes que quero sentir... Talvez as viagens que quero fazer.. E os lugares que quero conhecer...

E os prazeres que quero ter...

Talvez o corpo... Talvez o rosto... Talvez o espírito... Talvez a saudade... Talvez as decepções.... Talvez o próprio talvez... E até o quem sabe...

Não sei...

Só sei que me olhei no espelho e pensei: não posso me perder de mim mesma.

E assim comecei o meu dia!! Cuidando de cada pedaço de mim... E que gostoso isso...

Ninguém cuida melhor de mim do que eu mesma... De verdade. Hoje, priorizei minha vida.

E decidi que é isso que devo fazer. Sempre!

E assim, escolher quem eu quero do meu lado. Com quem falar, o que falar.. A quem telefonar... A quem dirigir meu olhar... E assim escolher o que quero pra mim.

E assim decidir o que é melhor... Mesmo não tendo certeza...

Mas e daí? Melhor eu escolher sem ter a certeza, do que não escolher e deixar que escolham por mim.

Descobri hoje: eu preciso de mim... E eu sou minha melhor decisão ...

Sou completamente incompleta...

E vou me construindo... Particularmente... Eternamente... Infinitamente...

Só pra mim... Ou pra quem eu quiser.

Que delícia pensar assim!

Wednesday, November 29, 2006

Essa Menina






Essa menina tem um pensar nas nuvens...
E um pulsar do coração na ponta dos dedos...
E um olhar que mais parece o de um bebê encantado
com as descobertas de cada momento...

Tem também um sorrir aceso daqueles que iluminam canto a canto
do rosto... E a gente se apaixona quando vê essa menina sorrir...

Essa menina tem um ouvir que vai além do que se diz
Mas ela mesma não diz nada

Porque no momento em que se fala
aos seus ouvidos, sua mente flutua
E seu coração está lá,
dando ordens aos dedos
que, inquietos,
não querem outra coisa
a não ser se derramarem no papel...

E essa menina escreve
E quanta coisa linda tem a registrar...

E ela registra tudo,
e todos
e mais um pouco

que captou
dali do seu lugar...

E que lugar?
Ali, de seu mundo efervescente
onde tudo é poesia...
onde tudo acontece ao mesmo tempo agora...

Essa menina...

Que menina linda!


Essa menina chamada Ana Martha!

(Adriana Luz - 29 de novembro de 2006)

Sunday, November 19, 2006

Insônia

Passam-se os dias...
Passam-se as horas...
Passam-se os momentos...

Alguém já disse isso
Não sei onde
Não sei quando

Mas nunca fez tanto sentido
como agora
nesse momento
que já passou...

(Adriana Luz - madrugada de 20 de novembro de 2006)

Tuesday, November 14, 2006

Vaga análise sobre o nada...


... Pois eu me refiro a uma criança, daquela que não morou nas ruas... Daquela que nunca passou fome, nem frio... Mas daquela que foi à escola, teve um lar e foi cuidada por alguém...

Mas que alguém? É disso que falo. E também do frio que não se passou, da fome que não se sentiu, das tantas pessoas ao redor, das festas coletivas, das presenças em aniversários alheios, e das letras que chegaram, bem antes de tudo...É dessa criança que falo. A que teve tudo. E tanto. E todos. E, na verdade, nunca teve nada, nem ninguém...E aí esse desconforto de não fazer parte. Não pertencer a mundo nenhum. E a falta de ter a quem culpar, nem homenagear.

Um elefante rosa com uma flor nas mãos, no meio do trânsito...

É disso que falo. Mas falo pra dentro. Porque pra fora, não há letras que possam exprimir. Estas nunca vieram. Nem nunca virão.

(Adriana Luz - madrugada de 15/11/2006)

Tuesday, October 31, 2006

Vazio




O vento me sopra pela janela...
São quatro da manhã

Não sinto calor
Não sinto frio
Não sinto prazer

Não há indagações
Nem divagações...

Sequer existe tristeza
ou melancolia...

Apenas são quatro da manhã

E eu aqui, tentando existir...

(Adriana Luz – madrugada de 01 de novembro)

Friday, October 20, 2006

Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim...

O que é que a baiana tem...

Tem torso de seda tem
Tem brincos de ouro tem
Corrente de ouro tem
Tem pano da costa tem
Tem bata rendada tem
Pulseira de ouro tem
Tem saia engomada tem
Sandália enfeitada tem
Tem graça como ninguém
(...)
Só vai ao Bonfim quem tem
Um rosário de ouro
Uma bolota assim
Quem não tem balangandãs
Não vai ao Bonfim
Ai não vai ao Bonfim...

Não sou baiana, mas tenho mais que tudo isso... Tenho consciência de que minha vida é cheia de coisas boas. E nem preciso enumerá-las aqui..

E ainda por cima, hoje é sexta-feira, meu dia preferido!!! Sol, Salvador, praia, vida... Mas eu estou deprimida, me achando a última das últimas no mundo...

Completamente sem graça e sem balangandãs algum...

(Será que mesmo assim, eu chego ao Bonfim??)

Sunday, September 24, 2006

Flores voadoras...

Outro dia falei que iria escrever sobre as borboletas... Pois bem, não há dia melhor para falar sobre isso do que numa manhã de Domingo. Eu não gosto dos Domingos... Mas das manhãs de Domingo, quando há sol, está calor, e existe uma praia à minha espera... Que maravilha!

E, agora de manhã, resolvi colocar em meu perfil lá do Orkut (quem ainda não tem ou já não teve Orkut??rs), o desenho que meu amigo Luís Augusto, autor do Fala Menino, fez para mim.

Ele fez esse desenho já há alguns dias. Mais precisamente um mês atrás, na reunião de despedida de Amanda. Mas só hoje fui perceber ou prestar mais atenção... Engraçado, ele fez uma borboleta voando ao meu lado...Eu prestando atenção ao vôo...rs. E, no meu cabelo, ele colocou uma florzinha...E aí me lembrei do que havia dito aqui, sobre escrever inspirada no vôo das borboletas.

Pois bem, o que eu iria falar sobre as borboletas é o seguinte...

Era uma manhã de Domingo. Estávamos em Foz do Iguaçu. E decidimos visitar as Cataratas. Meus filhos ainda não conheciam as belezas naturais de Foz...

Nós acabáramos de estacionar o carro num lugar assim, cheio de árvores, com aquele cheiro de terra molhada...

Quando eu desci do carro, vi um monte de flores pequeninas, uma ao lado da outra... Achei a coisa mais linda do mundo. E mostrei para os meus filhos.

Eram flores amarelinhas, branquinhas, outras meio coloridinhas... E meus filhos correram para verem mais de perto...

Mas as flores, ao perceberem nossa presença, saíram todas voando, ao mesmo tempo...

Flores voando???

Pois é... Só aí percebi que não eram flores. E, sim, borboletas. Meus filhos corriam e brincavam ao redor delas... E eu, abestalhada e medrosa como sempre, corri de volta pro carro...(Aliás, por causa desse meu meu medo excessivo, já passei por várias situações ridículas... Qualquer dia, também falo disso...).

Bem... Como aquelas flores tão lindinhas, de repente se transformaram naqueles monstros voadores e perigosíssimos??

“Amanda, Mateus, não são flores!!! São borboletas!!! Cuidado!!! – foi o que eu pensei em gritar. Mas meu medo era tanto, que fiquei muda. Só tratei de me proteger...

E, aí, alguém, não sei se era o guia, se era turista ou um ser que percebeu a bizarrice da cena que eu protagonizava, deu uma aula...

“elas não fazem nada, são todas borboletas inofensivas que nascem perto dessas rochas úmidas e cheia de flores...

E seguiu dizendo que borboletas assim só sobreviviam ali porque o ar era puro. Elas (as borboletas) eram tão sensíveis que qualquer sujeira no ar, faria com que elas morressem...

E eu senti vergonha do meu medo... Elas, tão delicadas... E eu é que representava perigo a elas. Não elas a mim.

Eu é que estacionei o carro no local onde estavam. Eu é que atrapalhei o descanso delas. Eu é que invadi seu habitat...

E fiquei ouvindo aquelas palavras, olhando meus filhos correrem atrás das borboletas, tão puras e inocentes quanto eles...

E o medo se transformou em admiração...

E me lembrei que momentos antes eu tinha achado que elas fossem flores... E realmente se pareciam com flores. Flores voadoras... num espetáculo maravilhoso!

E a partir daquele dia, passei a olhar as borboletas com outros olhos. Com os olhos de quem sabe que elas nada mais são do que flores que aprenderam a voar... Lindas como as flores, lindas como meus filhos crianças, e lindas como manhãs de Domingo com sol, calor...

Tuesday, September 19, 2006

Lágrimas roliças...

Eu queria falar sobre as borboletas... Mas não sou dona de minhas palavras... Elas que me comandam... Portanto, hoje, o tema será outro... Qualquer dia, falo sobre borboletas, flores, primavera...

Bom...

Hoje li uma matéria sobre a separação de Débora Bloch e o marido, um francês com quem ela esteve casada por uns bons anos... Engraçado... Quando terminei de ler a matéria fiquei assim: “nossa, coitadinha”, “puxa”, “que pena”...

Depois de muitos “ohhhhhhssssss” e “puxas” internamente e sentimentalmente exclamados, acordei do êxtase. E dei de cara com as provas que tenho de elaborar e corrigir, além das aulas que tenho de preparar para amanhã...

E aí, a lucidez: “o que eu tenho a ver com a vida da Débora Bloch?” “ Só me faltava agora passar o dia pensando no casamento desfeito de uma atriz”....

E tratei de cuidar da minha vida...

Agora, horas mais tarde, voltei a pensar no assunto... É, eu tenho essas coisas... Mas nem é por causa da atriz.

Na realidade, eu tenho muita pena quando os relacionamentos se desfazem. Tenho isso desde criança....

Uma vez, por exemplo, uma das minhas tias terminou o namoro de somente dois ou três meses. E eu caí no choro quando soube. Mas, antes desse episódio, ela havia terminado com outro rapaz, um namoro de quase um ano, com direito a noivado e tudo. E, claro, chorei convulsivamente.

(Túnel do tempo...)

Ela chegou em casa, toda revoltada. Me chamou e disse: “Dri, quero que você vá à casa de Fulano e entregue isso à mãe dele. Mas não venha embora antes que ela abra o presente e Fulano veja o presente que mandei à Dona Fulana.”

E lá fui eu, balançando aquela caixinha com laçarote vermelho, achando a coisa mais linda do mundo...

Mesmo percebendo nas conversas em casa que aquilo se tratava de algo estranho, eu preferia acreditar que se tratava de um presente mesmo... E lembro-me que fui andando, pelo meu caminho pollyana de ser (que, aliás, acompanha-me até hoje), imaginando sei lá o quê... E, quando cheguei à casa da mãe do rapaz, entreguei a caixinha, e esperei, sorridentemente, que a mulher abrisse o pacote ...

Quando ela desfez o laçarote da caixinha...Ohhhhhhhhh!!!! Eu não queria acreditar na cena!!!!!!!

Era a aliança de noivado de minha tia com o filho da coitada... E havia um bilhete... Mas não me lembro exatamente do conteúdo... Só me lembro que era algo ríspido... E me lembro da cena... A mulher estática. E eu também.

Pensei, internamente: “como eu fui compactuar com uma coisa dessa?”.

E fiquei a tarde toda lá, na casa da mulher. Um pouco porque eu tinha de cumprir a ordem de minha tia, um pouco porque eu estava curiosa com o desenrolar da cena, e um pouco porque eu estava morrendo de pena do rapaz, ex-candidato a meu tio, que ainda não tinha chegado do trabalho. Eu ficava pensando: “imagina quando ele chegar e souber?”

E meu coração sangrava...Quando ele chegou, mais sangramento para o meu coração, porque, pasme o leitor, ele chorou. Ohhhhhhhhhhhhhhh! Minha tia era uma “carrasca”.

(Final do túnel... )

Caso alguém queira saber do desfecho da história... Depois de muitas voltas, eles (minha tia e o candidato a tio) se casaram. E estão juntos até hoje... O amor é lindo.. ai ai..

Bom. E esses episódios não foram os únicos. Eu tenho várias tias, irmãs de minha mãe. E, na época em que elas namoravam, eu me envolvia tanto com a situação delas que, quando havia uma briga (não precisava nem ser término de namoro), lá estava eu, debulhando-me em lágrimas solitárias. Acho que nunca contei isso a ninguém. Acho não, tenho certeza. Estou contando agora, em segredo, ao meu blog quase anônimo...

Há uma outra história também, de outra tia que terminou o noivado às vésperas do casamento... E esse término pareceu quase um funeral. E foi ele (o noivo) quem terminou tudo.

Eu me lembro até hoje dessa minha tia, vestida de preto, indo ao fotógrafo, tirar uma foto 3X4 para um documento, pois ela iria mudar de cidade, de estado... Acho que, se pudesse, ela mudaria de país, de planeta... E eu a acompanhei ao fotógrafo, com meu coração em caquinhos, sentindo tudo o que ela sentia naquele momento...

Bem, mas outra hora escrevo sobre isso...

Pois é... E hoje, cá estou eu, “sentimentalizando-me” com a história da Débora Bloch..

Ô, meu pai, por que não me deu um coração mais magrinho?? Daqueles bem sequinhos, onde só cabem pouquíssimas pessoas, histórias ou fatos??? Por que não me fez como Drummond, com um coração onde não cabem nem suas próprias dores???

Não!!!!!!!! Eu tinha de ter esse coração enorme, com vaga pra todo mundo, e com direito a garagem e playground??? Agora, tenho de ficar o tempo todo tentando provar que meu coração não passa de uma quitinete...

O problema é que nem sempre consigo convencer as pessoas.. E estas vão se achegando.. E vão se espaçando...

Preciso “me mudar”...

Ai ai... Alguém aí tem uma quitinete pra alugar??

(Adriana Luz - 20 de setembro de 2006)

Sunday, September 10, 2006

Continue a nadar...

Hoje estou com surto da escrita. Já escrevi sobre Kleyton e Kledir. Já mandei mensagem à minha amiga Vanessa sobre o que penso a respeito das borboletas (acho que vou fazer uma crônica sobre isso também..).. E já mandei emails, respondi a outros tantos.. Enfim... Um dia produtivo literariamente ou literalmente? Sabe-se lá...

E você pode perguntar: você não tem nada melhor pra fazer nesse feriadão todo???

E eu respondo de antemão: tenho sim, mas nem vou dizer o que é (ou foi) melhor... Mas talvez justamente por causa desse "melhor" é que estou (ou esteja) inspirada... (Bem, mudemos de assunto)...

Eu queria escrever sobre um filme que vi há uns dois anos (eu acho, talvez mais..). Esse filme eu vi com meus dois "bebês": Amanda e Mateus.

O nome do Filme? Procurando Nemo...

Sim!!!!!! Procurando Nemo. Coisa mais nerd, não? Pois é. De vez em quando (ou de vez em sempre!) tenho isso...

Mas agora, em 2006, minha filha está nos Estado Unidos ... Há uns vinte dias...

E, de lá, ela manda emails do tipo: "mãe, estou com saudade, quero voltar pra casa, não estou agüentando, estou com medo, insegura...etc etc".

Peço desculpas ao meu bebê por expor seus sentimentos aqui, mas isso é de fundamental importância para o que quero escrever...

Sim, e num desses emails, eu pensei em responder assim, com alguma mensagem bem marcante. Algo que pudesse fazê-la se lembrar de mim, e se lembrar de que ela nunca deve desistir de seus sonhos, mesmo porque eu estarei sempre ao lado dela, e no caminnho dela, desde o início ao fim... Nunca a abandonarei. Mas que ela deve continuar, sozinha, porque isso faz parte de seu crescimento... etc etc...

Pensei em vários filósofos, pensei em escritores famosos, dos que ela e eu gostamos... Pensei em Clarice ( a Lispector), pensei Em Cecília (a Meireles), pensei em Gabriel Garcia, em Dostoiewsk, em Niestche, em Freud, em Jesus Cristo e em seu Cálice, e daí lembrei-me de Chico Buarque (Pai, afasta de mim, este Cálice... Cale-se... : - ( ................

Nossa. Minha cabeça deu um nó... Quem eu iria citar nesse momento?

Procurei no mais íntimo do meu ser algo bem valioso e profundo...

Mas, de repente, sabe-se lá por quê, veio-me à mente nada mais nada menos do que a "peixinha" Dory... rs .

Desculpem-me os letrados.. E meus alunos que esperam de mim algo mais profundo...

O que posso fazer? (eu simplesmente adoro essa personagem).


E aí me lembrei da frase que ela dizia ao Nemo, quando este se sentia perdido, sozinho, e pensava que jamais conseguiria realizar seu objetivo: encontrar-se com seu pai novamente... Ela dizia:


"Continue a nadar"...




E aí não veio outra mensagem em meus pensamentos, senão esta:

"Amanda: continue a nadar"...


E acrescentei: "porque estarei te esperando no fim da praia"...

E assim me senti melhor.

Na verdade, acho que é isso que temos de fazer na vida: nadar sempre... Sem desanimar, sem desistir. De vez em quando descansar, boiar.. Mas nunca afundar...

Isso porque há alguém nos esperando no fim da praia.

Sempre há alguém...

Que bom...

E pra você, Amanda, eu sempre estarei aqui...

Bom dia a você que está lendo este texto e bom dia ao meu amor, Amanda, que é a quem dedico meu dia de hoje...

Te amo

Deu pra ti, baixo astral...

Nem sei por que, mas na semana passada eu me lembrei da dupla Kleyton e Kledir ( alguém sabe de quem se trata???)... Pra quem não sabe, é uma dupla gaúcha,que fez sucesso na década de 80...

Ah, sim, lembrei-me agora por que me lembrei deles na semana passada... Foi por causa da banda (de uma homem só..) Júpiter Maçã.

Semana passada fui a um show do Júpiter. Gostei muito. Especialmente porque o local estava vazio. Quer dizer, havia lá uns malucos dançando e pulando, mas nada que me atrapalhasse, nem abusasse dos meus pezinhos, dos meus ouvidos e da minha paciência. Bem, em resumo, consegui ver ( e ouvir) o show com calma... E, como ele é gaúcho (acho que foi por isso, o sotaque, o jeito, sei lá...), baixou-me assim, uma espécie de saudosismo bairrista...

Sei lá. Nem sou gaúcha.

Mas sabe aquela coisa de "eu sou do sul e conheço as coisas de lá?"

Pois bem. Daí até Kleyton e Kledir, Arrigo Barnabé, Renato Borghetti e outros tantos, foi um pulo...

E, agora de manhã, ao ler uma matéria na TRIP, dei de cara com o Kleyton e Kledir.

Na verdade, não era uma matéria sobre eles exatamente, mas sobre alguém que se lembrou deles. Uma cara que mora nos Estados Unidos... Matéria engraçada, sobre esse cara que perdeu o sono porque se lembrou de uma música da dupla, no meio da noite. E ele acordou com isto: "Deu pra ti, hum.. ké ké.., baixo astral, vou pra Porto Alegre, tchau!"

E ele estava encucado com o "ké ké"... O barulho que a dupla fazia no meio da canção. A partir daí, as divagações... sobre os "zavaza" de Elis Regina e outros grunhidos de outros cantores brasileiros...

Lembrei-me da Daniela Mercury. Em toda música ela faz um "rã", assim, do nada... Já perceberam?

E eu acho que sem esse "rã", não seria Daniela cantando: "capoeira, dim, dim dim, dim dim dom RÃÃ...

E de Gilberto Gil... Alguém imagina Gil cantando sem falar os "haha ...huhu" ao final de cada verso? Impossível.

Pois é.. Cada um com seu cada um...

O problema é que ,às vezes, esses grunhidos cansam...

Uma vez fui a um show do Timbalada.. Nossa! No começo até que estava interessante, mas não sei o que deu no vocalista (?)... E, de repente, ele começou num "abada baba huhu rrrrr", sei lá o quê... E a partir daí a música acabou. Foram esses grunhidos e um batuque interminável o resto da noite. Acabou com a minha festa. Claro. E olha que eu gosto do grupo Timbalada e de batuques e atabaques. Aliás, paguei caríssimo por esse show, afinal era Reveillon.

Imagine, Reveillon, Timbalada, Praia de Guarajuba, camarote...

Pois é...

Andei quilômetros, agüentei engarrafamento, bebida quente (sim, quente!!!!), empurra-empurra, pisão nos pés... pra quê?? Pra passar a noite ouvindo o Abadabadabadúuuuuu dos Flinstones, ops, do Timbalada...

Uma coisa!!

No outro dia, estava arrependidíssima de ter ficado até tão tarde, e de ter gastado tanto...pra... NADA! Nessas horas que fazem falta conselhos do tipo Kleyton e Kledir: Deu pra ti, baixo astral , vou pra Porto Alegre, tchau...

Por que não me lembrei dessa pérola da dupla gaúcha naquela noite? Por que não dei tchau e voltei pro meu Porto (que no caso, não estava tão Alegre, mas era meu)?

São essas coisas que me pergunto... Enfim, são apenas divagações numa manhã de domingo...

Já passou, né? Fazer o quê??

(Adriana Luz - 10 /9/2006)

Monday, September 04, 2006

Sem-teto

Meus dias andam estranhos... Andam não, se arrastam. Estou tão sem paciência.

Tá, tudo bem, nunca tive paciência pra nada mesmo. Admito. Mas, de vez em quando, nossa. Haja...

Bem, estou tentando melhorar. Preciso me controlar mais. Preciso, preciso, preciso. Vou fazer disso um mantra. (Cadê meu analista?????????)

Aliás, eu juro que já estou tentando. Outro dia, até perguntei a um amigo de um amigo o que ele achava de mim.Perguntei sobre meus defeitos. E comecei logo por um que de vez em quando baixa em mim. Perguntei assim: você me acha pedante?

Ele disse que não, que achava que eu era uma pessoa que deixava bem claros meus posicionamentos, quando eu acreditava neles. Acho que foi mais ou menos isso que ele disse. Deveria ter anotado... (Conselho de analista, e que eu nunca segui... hunf) Enfim...

Depois perguntei se isso, para ele, seria defeito ou qualidade.

E ele disse: bem, se você faz isso sempre, pode ser um defeito, porque pode parecer que você não aceita a opinião de ninguém, só a sua que conta... Mas se você fizer isso de vez em quando, é qualidade, porque mostra logo o seu pensamento e deixa bem claro até onde o outro pode ir com você. Tipo, mostra o respeito...

Hum... Resposta bem em cima do muro. Ele mesmo admitiu que ficou em cima do muro...rs. Mas depois consertou dizendo que acha legal meu jeito, etc, etc...
E pelo papo que teve depois comigo, sobre "regras de etiqueta", "o que é elegante fazer em determinadas ocasiões" (uma espécie de consultoria..rs) imagino que ele deve me achar uma pessoa elegante etc, etc... E isso eu acho qualidade...rs

Na verdade, o que eu estou querendo dizer, é que eu até sei (sabia...) das minhas qualidades, e admito meus defeitos. Mas há coisas que não dá. Não consigo me controlar. E aí, baixa o "fique no seu devido lugar" ... E, como não quero sair do salto, não sei, acho que exagero na elegância... E coloco o outro lá, no lugar de onde acho que ele nunca deveria ter saído.

E isso é bom? é ruim? Não sei. Só sei que depois fico péssima.

Bem, e se fico péssima depois, então é porque é ruim... Elementar...

Pois é, meus dias estão péssimos. Preciso me controlar. Contar até três, até dez... Até mil (será que eu agüento?)

Sim, e tem um conselho que alguém me deu uma vez. Não era analista...Nem me lembro de quem foi o conselho. Ou será que li isso em algum lugar?? Vai saber...

O conselho era o seguinte: anote todas as suas qualidades. E centre-se nelas. E decore, deixe isso em sua mente.

Bom, hoje eu pensei em fazer uma lista de coisas boas a respeito de minha pessoa... Mas cadê que eu lembro????

Descobri que é mais fácil (dez milhões de vezes mais) falar dos meus defeitos.

E estou péssima por isso. Sou uma sem-qualidades... Praticamente uma sem-teto.

Meu mundo caiu. :-(

Monday, August 28, 2006

Margarida é nome de Flor...





Hoje ganhei um presente. Na verdade, ganho presente todos os dias. Sou uma mulher de fé, acredito em tudo o que minha mãe me ensinou. E trago comigo, todas as crenças, as rezas, as tradições...
Às vezes, me pego querendo quebrar alguns ensinamentos. Talvez porque eles me prendam a coisas que me parecem questionáveis... Mas, mesmo questionando, há coisas que não há como perder. E, sinceramente? Nem quero que se percam de mim.

E uma dessas coisas é exatamente a minha fé em Deus e minha devoção por Maria, a mãe de Jesus. Sim, sou devota de Nossa Senhora. Acho que uma devota meio “capenga”, porque não chego nem um milímetro à altura da devoção que minha mãe tem pela Santa. Mas me considero devota. E protegida por Ela.
E já tive várias provas disso. Em outro momento, talvez eu até escreva algo a respeito.

Mas, no momento, só quero agradecer a Deus, à Maria, aos céus, pelo presente que ganhei hoje em sala de aula. Um presente com nome de Margarida. Com nome de flor! E eu que gosto tanto de flores... Essa veio perfumar minha aula e deixar seu perfume impregnado nas mentes dos meus alunos... E minha!

Uma mulher.

Uma mulher talvez como outra qualquer...

Daquelas que sofreram por amor, que sofreram pela perda de entes queridos, pela perda de sua pátria... E pior, sem nenhuma explicação.

Uma mulher, talvez como qualquer outra...

Que se casou, que teve filhos...

Uma mulher, talvez como qualquer outra...

Que vive apenas o dia de hoje... Não pensa no futuro, porque o futuro virá, de qualquer forma, talvez também sem explicação. E ela o viverá, porque aprendeu a viver assim, recebendo o que lhe vem... Como presente, ou como dor... Ela apenas vive...

Uma mulher, talvez como qualquer outra...

Que poderia estar calada, ou vivendo a sorte que muitas mulheres de sua terra não tiveram...


Mas Guidha não é qualquer mulher...

Ela é a tradução e a prova de que não só podemos transformar nossas dores em arte, tristezas em cores... mas especialmente transformar o mal que nos fizeram em atos concretos de solidariedade e compaixão...

E foi essa vida que ela veio mostrar hoje aos meus alunos em sala de aula. Uma aula que também poderia ser como outra qualquer, em que eu talvez estivesse no centro das atenções e meus alunos ali, tentando aprender comigo, enquanto eu, na verdade, é que aprendo todo os dias com eles... Tanto isso é verdade que, hoje, aprendi com minha aluna Alice, do 1º ano 2, e com o grupo do qual ela fazia parte que, realmente, a verdadeira escola é aquela que traz à vida.

E qual seria a aula de hoje? Apresentações das equipes relacionando o livro “Equador” com o filme “O Jardineiro Fiel”. Antes de começar a aula, uma das meninas do grupo de Alice, toda preocupada, veio me dizer que estava com medo porque achava que o seu grupo iria fugir do tema. E me perguntou se a “palestra” poderia acontecer mesmo assim... Eu falei que sim, mesmo porque eu havia deixado livre a forma de apresentação...

E eis que me “aparece a margarida”. E isso não é metáfora para marchinha de carnaval. O nome da palestrante era Margarida mesmo (e ela se apresentou como Guidha). Uma mulher de trinta, quarenta, sei lá quantos anos (e isso não vem ao caso)... Uma artista plástica que viveu em Angola, os horrores da guerra e que, por causa dela (da guerra), teve de fugir de seu país. Uma mulher que, aos quinze anos, deixou pai, mãe, irmãos, amigos, namorado (Sim, gente, eu tinha namorado! – ela disse com os olhos cheio de lágrimas) e foi para os Estados Unidos para passar um mês. Mas, com a guerra “estourada”, ficou 520 dias (contados um a um – como ela disse), num país estranho, com gente estranha, sem notícia da família, dos amigos, sem explicação alguma... E que passados os mais de 500 dias, teve de se refugiar com a família em outro país. E assim, atravessou os mares clandestinamente... E aqui “aportou”...

Hoje, em sala, apareceu-nos assim, de forma tímida e sorriso doce... Em suas mãos, uma boneca antiga (a única coisa que ela conseguira salvar de sua infância em Angola) e algumas folhas, que ela segurava com as mãos trêmulas. Em seus lábios, uma voz calma, cheia de sensibilidade... E em seus olhos, lágrimas...


E sobre o que ela falava? Guerras, destruição, abandono, abuso de poder, exploração, sangue, descaso...meninos sem pátria, sem ajuda, sem destino... Mas falava também sobre força de vontade, espírito de luta, garra, solidariedade, fraternidade... falava de sua gente, das mulheres lindas de seu país, do sorriso estampado nos lábios de seu povo... Povo negro, tão diferente (de sua aparência branca) e tão igual, em sua essência “colorida”...

Mostrou-nos música, mostrou-nos fotos, mostrou-nos poesia... E nos fez viajar com ela até seu país de origem... Angola de sofrimentos, mas de saudade para essa mulher que, quase ao acaso, chegou até a Bahia...

Quando a palestra terminou, eu não tinha palavras... O grupo ainda queria “algo” para relacionar com o livro. E eu disse que não precisava. Mesmo assim, ainda colocaram um clipe (montado pelos integrantes da equipe), com músicas, imagens e palavras de sofrimento, mas também de esperança...
O clipe foi lindo. Mas não precisava. O grupo que pensou não ter relacionado nada com nada, simplesmente, deu-nos uma aula de vida. E tudo estava ali, completamente relacionado ao que eu pedira. Ou melhor, com a extrapolação necessária a quem tem asas, pensamentos e imaginação próprias.

Estou comovida com o trabalho da equipe. Com o trabalho de Guidha. E com o meu trabalho. Isso sim, pra mim, é Educação. E que bom que a cada dia aprendo com minha profissão, fazendo-me mais consciente de meu papel, aquele que eu tenho de “interpretar”, aquele que eu tenho de viver, e aquele que eu tenho de usar como forma de denúncia, explicação, carinho, entretenimento, ou homenagem. E aqui fica a minha para essa artista plástica, mãe e cidadã do mundo, uma flor chamada Margarida.

Em suas próprias palavras:

"O papel foi como uma trilha para descobertas, para voltas, reviravoltas, para idas e vindas,
às vezes sem sentido... Foi trazendo as imagens que se perderam nas gargantas apertadas, nas esperas angustiantes, que descobri como tenho mãos amigas, abraços queridos, sorrisos de paz a me amparar...”

Obrigada, Guidha, pela flor que deu hoje a todos nós. Guardaremos com muito carinho...

(Adriana Luz – 28 de agosto de 2006)

Tuesday, August 22, 2006

New York... New York







Por aqui... Segunda-feira de sol, mas com algumas nuvens que demoraram a se dissipar...
Mas estão passando... E só vai restar o sol... Eu sei

:-)

(Amanda,já em NY - Stamford / Connecticut a caminho de uma biblioteca. Detalhe: ela foi tirar foto de alguns livros na biblioteca, mas foi proibida pelo guarda que não a deixou disparar a "arma" com seus flashes malignos...haha)

Monday, August 21, 2006

Vai passar nessa avenida um samba popular...

Dia estranho, com gente esquisita... Eu não tô legal...
Alô, alô, Marciano, aqui quem fala é a Maria...
Maria qualquer, lavadeira, passadeira, enroladora de cachos
Fazedora de pão e de filho...
Letrista de carta pra analfabeto e de uma canção
Vendedora de pinhão no sul
e de acarajé no nordeste...
Maria que foi ser professora
pra aprender a viver...
Maria, moleque... Nunca ouviu esse nome?
Pára um pouco o que estiver fazendo e olha pra mim, aqui em baixo...
Sou uma Maria qualquer
Aquela que às vezes nunca vai
E por isso é tachada de chata
Mas às vezes, aquela que aceita ir
E fica tachada de "vai-com-as-outras"
Sou uma Maria
E tanto faz se eu fosse Severina ou Letícia...
Sou apenas uma mulher que ia passando...
E resolveu tirar os olhos do chão
E olhou pro céu...
Hoje é segunda-feira, dia internacional das nuvens...
Mas tem sol, apesar das tais nuvens estranhas....
Já vi essas uma vez. Uma não. Talvez duas ou três.
E não gosto da cor delas não...
Tô achando que essas nuvens vão demorar a sair da frente do sol...
Faz isso comigo não, menino...
Não gosto da cor delas.

Hum... Tá bom...

Toda cor é importante, eu sei...
Vou agüentar essa, então...
Mas só porque sei que nada é pra sempre...
E que elas...
E que...
Olha só o sol me queimando a pele...
Que beleza... Obrigada, seu moço!
Vou-me´mbora cantando:

"Ensaboa mulata ensaboa
Ensaboa tô ensaboando
Tô lavando a minha roupa
Lá em casa estão me chamando, o Dondô
Ensaboa mulata ensaboa
Ensaboa tô ensaboando
Trabalho um tantão assim
Cansaço é bastante sim
A roupa um tantão assim
Dinheiro um tiquinho assim
Ensaboa mulata ensaboa
Ensaboa tô ensaboando
Everybody run, run, run
Everybody run, run, run" (Marisa Monte)



(Adriana Luz - entre o final do dia 21 e o início de 22 de agosto de 2006)

Thursday, August 10, 2006

Surto depressivo

Sábado amanheci deprimida.
Domingo amanheci deprimida.
Segunda amanheci deprimida.
Terça amanheci deprimida.
Quarta amanheci deprimida.
Quinta amanheci deprimida.
Adivinhe só?
Amanhã é sexta-feira...
E eu já estou deprimida só de me imaginar amanhecendo deprimida
no dia internacional da anti-depressão... :S

(Adriana Luz)

Wednesday, July 19, 2006

Depende. E quanto mais depende, mais depende...

Depende... depende... depende...

Porque, se não depende, pra não depender, depende.

E se depende, porque depende, cada vez mais depende.

E como bem disse meu amigo Osvaldo...

Quanto mais depende, mais depende...

(Adriana Luz - num início de 20 de julho de 2006. Ou seria num final de 19 de julho? Depende...)

Tuesday, June 27, 2006

“...Mas nada vai conseguir mudar, o que ficou...”

Cena 1: Eu ao telefone...
Cena 2: Filhos brigando porque um invadiu o MSN do outro, respondendo pelo outro a um terceiro que, sem saber que a resposta era do um, combinou com o outro algo que o um respondeu... Entendeu?
Cena 3: Um brigando comigo porque eu não tinha dado bronca suficiente no outro...
Cena 4: Eu (a quarta pessoa dessa história) ainda ao telefone. Parei por um segundo para “apreciar” a cena bizarra de dois adolescentes, quase adultos, se estapeando e falando impropérios um ao outro... enquanto o outro (o quinto elemento dessa narrativa) que estava do lado de lá do telefone “ouvindo” meu silêncio, perguntava o que estava acontecendo... E eu: meus filhos se matando, acredita? E ele riu...
Desliguei o telefone e fui tentar resolver a situação...
Fim da novela.
Hoje de manhã, quando acordei, ainda pensava nisso... Lembrei-me de mim e deu meu irmão. Como brigávamos na adolescência. Nossa! E só na adolescência, porque na infância simplesmente fingíamos que não nos conhecíamos. É verdade... Eu nem tenho muitas lembranças de meu irmão de quando éramos crianças. De vez em quando até falamos sobre isso.
Ele simplesmente não fez parte dessa fase da minha vida. E, se fez, foram tão raras suas aparições que nem foram computadas pelas minhas memórias. Talvez um ou outro lance, de relance... Eu não sei se eu fazia questão de o ignorar ou se ele era quem fazia, se era ciúme um do outro, ou sabe-se lá... Sei que o um passava pelo outro, como se o outro fosse invisível para o um...
Bem, isso na infância... Mas na adolescência... Pelo amor de Deus! Meu irmão era insuportável! Daqueles irmãos típicos mesmo, que faziam de tudo para irritar a irmã mais nova, e depois com a cara mais lavada do mundo se fingia de bonzinho. E minha mãe acreditava! Isso é que era o pior. E ainda acrescentava: “essa menina era tão doce quando criança e agora adolescente é assim, toda rebelde, não pode nem encostar”.
Que ódio eu sentia! E depositava todo esse sentimento nele, em meu irmão, claro. Quanto mais ele me irritava e minha mãe achava que eu é quem era a rebelde, mais eu me rebelava e me tornava rebelde mesmo. Quase nos matávamos. E engraçado é que ele sabia exatamente meus pontos fracos, minhas inseguranças, meus complexos. E era bem aí onde atacava...
Aos poucos o tempo foi passando. Foi morar fora. Começou a se transformar em meu melhor amigo... Talvez justamente porque já não dividíamos o mesmo teto, ou porque tínhamos crescido mesmo... As brigas continuavam. Mas eram menos. Bem menos. No lugar, de vez em quando, aparecia um irmão todo bobo quando alguém me elogiava.. Às vezes eu me achava feia, ainda cheia de complexos. E quem me exaltava? Meu irmão...Vinha me contar em detalhes que fulano ou fulana tinha dito isso e aquilo sobre mim... Fazia-me sentir uma verdadeira modelo...
Nessa época, eu adorava usar saias curtas (bem, confesso que ainda gosto...) Meu avô não deixava eu usar, e minha mãe, sempre tentando apaziguar, não sabia se atendia aos meus pedidos ou se obedecia ao meu avô... Então, quem me socorria? Meu irmão, que vivia me defendendo. “Tá na moda”. E me presenteava não só com as saias que eu via nas vitrines, como gastava quase metade do salário dele em presentes pra mim... Tinha orgulho da irmã “modelo”... E eu desfilava pelas ruas, nas festas, nas reuniões em família; era praticamente uma Gisele (ou uma Luíza Brunet, se levar em consideração a época... ai ai)...
Meu melhor amigo até hoje. Brigas? Raríssimas. Tão raras que nem são computadas pelas minhas memórias...Memórias que só guardam coisas boas. Sempre. Dele, dos meus filhos, das pessoas que fizeram parte da minha vida... Até das defesas de minha mãe em relação ao meu irmão na adolescência, tenho como lembranças boas... Fazem-me retornar a uma época que, infelizmente, jamais voltará. E me lembro da casa cheia, das pessoas, das festas, dos churrascos, das visitas, das reuniões, dos cheiros... de um tempo em que “a gente chegou a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre, sempre acaba...”
Hoje, sei que eu e meu irmão jamais voltaremos a nos ignorar na infância, jamais voltaremos a brigar na adolescência, com minha mãe no meio defendendo a paz no lar... Jamais meu avô chegará dizendo que não quer me ver andando sozinha na rua ou que achou minha saia muito curta... Jamais haverá aqueles churrascos, aquelas reuniões...Tanta coisa jamais acontecerá... Pois é...

Um dia, jamais Amanda e Mateus voltarão a protagonizar cenas como as de ontem... Um dia, jamais brigarão porque um invadiu o MSN do outro e o um respondeu pelo outro o que o outro não pensava dizer ao terceiro...
Quanto ao terceiro, o que estava do outro lado do MSN... Bem, ele também jamais saberá que, sem querer, também presenciou algo que um dia jamais voltará a ocorrer... Que pena... : -/


(Adriana Luz - * Hoje tem jogo do Brasil - Brasil X Gana - depois escrevo sobre isso)

Thursday, May 18, 2006

IMPACIÊNCIA

Dia ímpar.
Mês ímpar.
Ano ímpar.

Por que insisto ainda ser par?

(Odeio o conflito que há entre
O par ou ímpar...)

(Adriana Luz)

Wednesday, April 05, 2006

Sentir-se Amado (Martha Medeiros)

Eu havia decido que, neste espaço, eu somente publicaria textos de minha autoria. Mas hoje recebi esse texto de minha amiga Alyne. Achei tão minha cara que tive a ousadia, petulância ou seja lá o que for, de me sentir "autora espiritual". Sim, o texto abaixo não é de minha autoria. É de Martha Medeiros. Eu sei. Mas hoje, somente hoje, ele é meu.





A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização


O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.



Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas
mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma
diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização,
apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz
que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de
sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e
tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas
enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir
o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,
que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão
dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos
para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja
delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te
trazer um cálice de vinho."

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois
anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela
fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando
diz que você está fazendo uma tempestade em copo d’água. "Lembra que
quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando?" Então,
chegou sua vez de simplificar as coisas. "Vem aqui, tira esse sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam
a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se
sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se
amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não
existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem
inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta
muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não
levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.


Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

Tuesday, March 28, 2006

Velhos tempos.. Belos dias...

Chego em casa. Na geladeira, uma fatia de bolo de cenoura. Cobertura de chocolate. Nem gosto muito de doces. Nem gosto muito de bolos. Mas, de repente, quando vi aquela fatia de bolo de cenoura, não sei por que... Mas senti uma saudade dos bolos que eu fazia antigamente... Antigamente mesmo, há muitos anos... sem exageros...

Houve uma época na minha vida em que não fazia outra coisa, a não ser cozinhar. Quer dizer, eu fazia outras coisas, mas também, cozinhava. E cozinhava muito. Às vezes, eu tirava o dia somente para preparar coisas gostosas, inventava receitas, modificava uma coisa ali, outra acolá... Passava horas dentro da cozinha... Depois congelava tudo. Meu freezer vivia cheio de guloseimas. Era ótimo, porque sempre que dava vontade de comer uma coisa diferente, era só descongelar e pronto. Ou então, quando chegava uma visita sem avisar (argh, odeio quem chega sem ao menos dar um telefonema antes!), eu tinha lá, sempre algo a oferecer...Ai ai, velhos tempos... Belos dias...

Hoje, não tenho mais paciência para essas aventuras na arte culinária...Não consigo nem ficar mais de vinte minutos dentro de uma cozinha. A não ser que seja uma data especial, ou eu tenha um convidado igualmente valioso.

E, até por isso, qualquer novidade na geladeira aqui de casa, ou trata-se de fruto de minha ida a uma delicatessen, ou Juliana (que trabalha aqui em casa) teve um surto emocional e resolveu fazer.. Ou, então, alguém (um vizinho, a mãe do namorado de Amanda, ou a minha mãe...) resolveu mandar... Dificilmente, a novidade deliciosa, linda, e que dá água na boca, é de minha autoria.

Acho que esse negócio de cozinhar é realmente uma arte. A gente precisa de inspiração, precisa de estímulo..
Caso contrário, mal dá vontade de preparar uma macarronada. E, de sobremesa, no máximo, algo bem rápido, como um brigadeiro, sem se dar nem ao trabalho de enrolar. Tirar da panela, pôr num prato e pronto. Quem quiser, que coma de colher...

É isso.

Mas por que estou divagando a respeito desse assunto mesmo? Ah, sim. O bolo de cenoura na minha geladeira. Amanda avisou que é dela e que ninguém ouse tocar... A mãe do namorado mandou.

Tá certo. Eu não gosto mesmo de doces...

Roubei só um pedacinho. Só para me sentir voltando a um tempo do qual tenho saudade. E me lembrar de como era bom quando eu me dedicava à arte de cozinhar...

(Amanda acaba de me permitir comer {mais} um pedaço do bolo... É... A mãe do namorado dela anda inspirada. O bolo está realmente muito gostoso. Ai ai..)

E eu estou precisando de inspiração. Mas hoje, cheia de provas para corrigir, aulas para preparar, e dia nublado... Impossível!

Amanhã penso nisso!

Friday, March 24, 2006

Hoje só tem pão velho



Amanheceu chovendo. O cheiro abafado, e o vento molhado me incomodam. Sinto-me asfixiada em dias de chuva. Desprotegida. Parece que as águas vão me retirar alguma coisa. Talvez o brilho que tentei cultivar durante a semana ensolarada. Curioso é que durante a semana ensolarada, eu me peguei reclamando, quase praguejando contra aquele mormaço que subia pelas minhas pernas, tomava conta do corpo todo e me fazia suar até o último fio de cabelo.
E nessa manhã, eu já com saudade do suor em minha testa, olho para as pessoas na rua. Parecem todas também asfixiadas. Cheiro de mofo.
Nos lugares aonde vou, tudo irritantemente úmido. Piso escorregadio. Congestionamento. Tudo muito apertado em dias de chuva. Todos são feios. As caras são cinzas, os olhos embaçados...
Tudo parece girar em torno de um mesmo ponto. Nem agonia percebo. Simplesmente não há o que viver. Minha roupa cheira à cachorro molhado. Me sinto pobre. E pobre no sentido íntimo da pobreza. Sem nada que possa me edificar como pessoa. Vida errante. Sem destino certo. Sem moradia própria. Sem segurança por perto. Uma estátua nua. Sem rosto. Sem pele, sem pulsação. Me vejo na rua. Criança com fome, nariz escorrendo, blusa de lã encharcada. Mãos frias. Pés descalços. A chuva fina batendo na carne sem vida. E o estômago fundo, vazio... Criança à porta de uma casa grande, de luz apagada, pedindo algo para comer. E a imagem de uma mãe que nunca foi minha: hoje só tem pão velho. E a criança sem perspectiva: eu quero, dona.
Hoje só tem pão velho, e é o que vejo por toda parte. Pão velho, murcho e embolorado.
A chuva me irrita. Talvez porque jogue na minha cara que, na verdade, o que sobra depois de tudo, é o que está fora do prazo de validade, o embolorado, e que tem de ser metido goela abaixo porque não há nada melhor para enganar o estômago.
E parece que a alma da pessoa se mostra mais em dias de chuva. E eu chego a sentir o odor fétido do bolor que vai dentro muita gente. Ou esse cheiro viria de dentro de mim?
E é tudo tão podre, tão vil, que me pergunto o real motivo da existência de muito ser humano (?). Questiono até o motivo de eu estar ali e com minha alma também tão exposta. Sinto-me vulnerável.
E as fotos dos risos de um passado tão próximo, dos abraços, dos beijos, do “todos unidos”, ficam sem sentido. Ou perdidas numa realidade paralela. Tenho a impressão de que, se eu pular para o lado, vou cair num outro espaço que nem sei dizer se seria o que minha alma diz que poderia ser...
Na verdade, em dias de chuva, não sei onde estou. E se existe algum lugar mesmo. E é tudo tão opaco. E eu não estou. Nem sou. Não existo. E nem me sinto...

(Adriana - 24 de Março de 2006 )

Monday, January 30, 2006

31 de janeiro

E em tudo se instala
o que se chama silêncio
Corrente sangüínea
outrora em ebulição...

...E o líquido repousa
no leito de suas veias....

(Adriana - 31 de janeiro de 2006)

Sunday, January 22, 2006

É melhor ser alegre que ser triste...

Minha mãe vive dizendo que é muito egoísmo de uma pessoa quando esta não compartilha seus sofrimentos com os que estão ao seu redor... Cresci ouvindo isso. Então, muitas vezes, na minha vida, apesar de eu não gostar de falar sobre meus problemas com ninguém, eu saía distribuindo meus chororôs por aí. Nao queria ser egoísta. Às vezes, passava horas ao telefone desaguando minhas dores... E chegava a me sentir satisfeita quando percebia que alguém estava com pena de mim. Nossa! Que coisa (hoje enxergo o absurdo disso!).

Mas em contrapartida, eu também sofria as dores dos outros. Sim!!! Como não? Essa era a regra. Eu chorava primeiro, o outro chorava em seguida. Então, quando o outro era quem chorava antes, eu tinha de chorar igualmente. E eu sentia tudo o que o outro sentia, os mesmos enjôos, as mesmas dores nas costas, os mesmos apertos no coração, as mesmas preocupações com filhos adolescentes ( e meus filhos ainda nem tinham chegado à segunda infância...), a mesma fadiga. E ficava assim, durante dias, remoendo aqueles problemas que não eram meus, chegava a quase ficar de cama (juro!) quando não conseguia ajudar.

Dias e dias remoendo aquilo, contando para os parentes, amigos próximos, espalhando tristeza por aí. Mas eu pensava que se não fosse desta forma, seria muito egoísmo meu. Eu tinha de sofrer junto com meu semelhante. E o meu semelhante também tinha de sofrer comigo. Era uma troca.Até que, um dia, eu percebi que minha vida estava sendo um eterno sofrer. Mesmo quando eu estava feliz, por qualquer motivo besta, eu achava um jeito de acabar com aquela alegria. Claro!! Como eu podia estar feliz se um parente ou amigo estava com dor nas costas, com problemas conjugais, com dor de dente, se havia perdido suas finanças, se o filho havia batido com o carro por causa de bebedeira?? Como???????? Meu Deus, isso era muito egoísmo! Então, eu brigava com marido, com filhos, com o papagaio. Sim, minha vida não podia ser perfeita.


E não era. Tinha seus altos e baixos. Mas eu fazia questão de valorizar mais os baixos. E os que viviam comigo também eram assim. Senão, como explicar tantas noites de sono perdidas por causa de problemas alheios ou supervalorização de pequenos problemas nossos? Bem, isso durante um certo tempo. De repente, eu percebi que eu era egoísta sim. E que estaria muito melhor se assim o fosse, obrigada. E resolvi fechar meus ouvidos e minha boca para a tristeza. Nunca mais falar sobre nem uma dor de dente minha, de meus filhos ou quem quer que fosse, a ninguém. E nunca mais parar para ouvir problemas de ninguém.

Está com problema? Sinto muito. Posso fazer nada. O máximo que posso fazer é rezar por você. Ou então, convidá-lo para sair e festejar. Dançar, ver gente bonita, passear, viajar, sei lá. Mas ficar parada ouvindo e me solidarizando, nem pensar.

Sinto muito, repito. Ou melhor, sinto nada.

Sim, isso é uma Ode ao egoísmo, como diria minha mãe. Mas eu tenho ficado melhor assim. Não falo de meus problemas a ninguém. E tenho muitos, muitos mesmo. Mas você não vai receber um telefonema meu, nem uma visita por causa disso.

Você vai receber um telefonema meu sim, mas para lhe contar minhas conquistas ao longo do ano, as conquistas de outras pessoas, para falar sobre a beleza de Salvador, sobre o Carnaval, sobre livros, filmes, a saúde e a beleza de meus filhos (que são mesmo os mais lindos, educados, e perfeitos do mundo! Não posso perder a chance de enfatizar isso! rs).


E quanto às minhas visitas, bem, se eu realmente o visitar, o que acho quase improvável, eu avisarei com, no mínimo, três dias de antecedência. E perguntarei se não quer que eu leve um vinhozinho ou algum petisco. Odeio quem chega sem avisar. Jamais cobrarei sua solidariedade. Prometo. Mas prometo não a você, prometo a mim mesma, que é a quem realmente devo satisfação.

Bom, se minha mãe ler esse texto, ela vai dizer: “é.. você é realmente egoísta e isso me deixa muito triste.” E eu já respondo de antemão: “fique triste não,mãe, seja feliz, porque eu estou bem, mesmo quando não estou.”

E esse texto é sim uma Ode, mas uma Ode à alegria. Salut!


(Adriana – 22 de janeiro de 2006 - Ao som de Lollipop, com a banda Bem Kweller)

Friday, January 20, 2006

Memória de minhas árvores tristes

Nunca pensei que desmontar Árvore de Natal fosse tão complicado. Sim, eu sei que hoje já são 20 de janeiro, quase 21... Mas pasme você, eu só desmontei minha árvore hoje... Eu, que fui criada em família católica, com todas aquelas tradições religiosas, sei muito bem que, normalmente, os enfeites natalinos são retirados no dia 06 de janeiro, que é o dia de reis. Que reis? Os três Reis Magos, aqueles a quem a estrela anunciou o nascimento do Messias.... Bem, mas no dia 06 eu não tive coragem de desmontar minha árvore. Não sei por quê. Amanheci com uma depressão profunda. E até escrevi algo do tipo: “ Hoje não tem poesia, só consigo pensar no espectro de minha vida vazia”... E só de me imaginar tirando aqueles sinos, aqueles anjos, aquela estrela... Pra mim, soava como se eu estivesse desmontando minha própria vida... Mais uma vez!Passou, então, o dia seis, passou o dia sete, passou dia oito, passou o dia onze (que é a data do meu aniversário)...E o dia 12, outra depressão, profundíssima. Fiquei dia todo trancada em meu quarto. Quando saí, no meio da sala, olhei. A árvore intacta. Peguei um livro e comecei a ler. Presente de aniversário. “Memórias de minhas putas tristes”, de Gabriel Garcia Marquez. Livro interessante. Mas não é sobre livro que quero falar.Semana passada minha mãe veio jantar aqui. Quando viu a árvore, logo se lembrou de sua mãe (minha vó) que só desmontava sua decoração de Natal no dia 20. “ O presépio” – completou, olhando com aquele jeito inquisidor, como se dissesse: você não tem mais uma família como a Sagrada... E eu entendi o recado: “Poxa- pensei – eu não montei o presépio este ano...” Bem, não me pergunte por que minha avó só se desfazia de sua decoração no dia 20. Minha mãe explicou, mas eu estava ocupada fazendo feijoada (para o jantar !), ouvi, mas já esqueci. E, apesar do catolicismo todo da minha educação, eu devo ter perdido essa aula na catequese. (Eu olha que já fui catequista também!). Bom, mas o fato é que quando minha mãe relatou esse fato, tranqüilizei-me. Se minha avó, ela que sempre fora tão devota, demorava tanto para se desfazer de tudo aquilo, eu poderia também perfeitamente esticar meu Natal até o final do mês. Bem, e aí hoje me dei conta de que já estamos na segunda quinzena do mês. E eu já estou às voltas com planejamentos para o início do ano letivo (ai ai). Resolvi, então, tirar aquele verde todo do lado do meu sofá. Achei que seria a coisa mais fácil do mundo. Mas não foi. Tamanha foi a agonia que senti ao retirar cada penduricalho, que resolvi arrancar tudo, de uma só vez, sem nem pensar se quebraria algo, se arrancaria uma perna do papai Noel, a asa do anjo, se a estrela iria perder uma das pontas... eu queria que aquilo acabasse logo. E coloquei de qualquer jeito dentro da caixa. Levei à despensa e saí. Página virada.Quando retornei à sala, pus-me a pensar sobre minha vida.Sempre fui assim. Às vezes, levo anos construindo algo, na maior dedicação, e preparação.. mas quando esse mesmo algo já não é mais como deveria ter sido e está me fazendo sofrer, ou se o fim dele é iminente e não há mais nada a fazer, acabo com aquilo de uma vez. Não sem pensar, mas com aquela ânsia de que se é pra ser, que seja se uma vez!E então o que se levou anos sendo construído, em cinco minutos vai ao chão. Foi assim, quando eu tive que me mudar do Paraná e largar meu emprego estável. Foi assim quando eu tive de deixar para trás uma casa deliciosa que eu mesma havia planejado – literalmente, rascunhei a planta mesmo, e depois disse ao engenheiro: é assim que eu quero. Vire-se! E minha casa foi construída exatamente do jeito como eu planejei. E nela eu achava que passaria o resto de minha vida...E foi assim também com meu casamento. 20 anos. E é a primeira vez que eu escrevo a respeito...Como na metáfora de minha árvore, não queria arrancar o que pendurei durante tanto tempo e com tanta dedicação. Tanta coisa pendurei nesta árvore, que não era a de Natal propriamente dita, mas que presenciou tantos natais, aniversários, férias, viagens, alegrias, tristezas, doenças, risos, sonhos...Bem, minha árvore (a do Natal) eu acho que no mês de dezembro deste ano eu a usarei, talvez com os mesmos penduricalhos, ou com novos... Ou talvez eu compre uma nova árvore. Ou talvez eu nem esteja viva. Quem sabe? Então, para o restante de minha vida penso o mesmo. Talvez eu tenha tudo de volta. Talvez somente algumas coisas. Ou talvez tenha tudo novo, com novos “enfeites”, novos “planejamentos”.. Ou talvez eu nem esteja viva para ter algo de volta ou para “plantar” novas árvores. Mas tudo bem. Hoje, consegui desmontar minha árvore de Natal. Doeu enquanto eu desmontava. Mas passou. E eu continuo viva. Que bom!

(Adriana - 20 de janeiro de 2006)